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Justiça manda filha e neto de idoso a júri por assassinato de casal em Cachoeirinha

Cláudia de Almeida Heger e Andrew Heger Ribas são réus pela morte de Rubem Afonso Heger, 85 anos, e da esposa dele, Marlene dos Passos Heger, 53

18/09/2023 13:44 por redação


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Marlene e Rubem Heger receberam visita dos réus e nunca mais foram vistos Arquivo Pessoal / Divulgação


 

Um ano e sete meses após Rubem Affonso Heger, 85 anos, e a esposa Marlene dos Passos Stafford Heger, 53, desaparecerem em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, a Justiça decidiu enviar a filha e o neto do idoso a júri. Os corpos nunca foram localizados, mas a investigação da Polícia Civil concluiu que o casal foi vítima de homicídio e apontou os dois familiares como suspeitos. Cláudia de Almeida Heger, 52, segue presa, e o filho dela Andrew Heger Ribas, 29, é mantido no Instituto-Psiquiátrico Forense (IPF)

Os dois foram os últimos a serem vistos na residência do casal, em Cachoeirinha. Marlene e Rubem desapareceram no domingo de Carnaval do ano passado, no dia 27 de fevereiro. A filha alega que levou o pai e a madrasta para a casa dela em Canoas, também na Grande Porto Alegre, de onde teriam sumido. 

Em depoimento, Cláudia afirmou que no dia 1º os dois teriam desaparecido, enquanto ela estava em um posto de saúde. Mas essa versão não convenceu a polícia, que indiciou os dois. Mais tarde, eles foram denunciados pelo Ministério Público pelos crimes. 

A decisão de enviar mãe e filho ao Tribunal do Júri é do juiz Marco Luciano Wächter, da 1ª Vara Criminal de Cachoerinha. Ainda cabe recurso desta decisão, mas, caso seja mantida, os dois devem ser julgados pelos crimes de duplo homicídio qualificado. Eles são acusados de terem cometido os assassinatos usando de dissimulação, por motivo torpe e à traição. 

Além disso, respondem pelos crimes de ocultação de cadáver, já que os corpos das vítimas nunca foram encontrados, mesmo com buscas realizadas. Segundo a acusação, notas fiscais mostram que Cláudia comprou utensílios numa ferragem, como uma lona de caminhão, braçadeiras plásticas e fitas crepes, em 9 de fevereiro, além de braçadeiras de nylon, tinta spray e fita tape, em 16 de fevereiro. Em 11 de fevereiro, Andrew levou o carro até uma oficina para instalação de películas escuras nos vidros. O automóvel estava com os carpetes arrancados quando foi submetido à perícia, após o sumiço do casal.

Há ainda outros crimes pelos quais os dois devem ser julgados, entre eles maus-tratos a animal doméstico, já que a cachorrinha do casal foi encontrada morta no pátio. Os réus são acusados também de fraude processual. Cláudia responde ainda por desacato, e Andrew por resistência à abordagem policial.

O crime

Em maio do ano passado, o Ministério Público denunciou Cláudia e Andrew pelos crimes. No entendimento da acusação, os dois foram de carro até a residência das vítimas supostamente para fazer faxina. No local, usaram colchões para bloquear a visão de dentro da garagem. Essa movimentação foi registrada por imagens de câmeras de seguranças das proximidades. 

Para o MP, os dois assassinaram Rubem e Marlene e, depois disso, usaram o veículo para transportar os corpos, que foram ocultados. Pelas imagens de câmeras, é possível ver o veículo de Cláudia deixando a moradia do casal naquele dia 27. Como o automóvel conta com película escura, não é possível visualizar se Rubem e Marlene estavam dentro. 

Sobre a motivação do crime, a acusação entende que uma soma de fatores levou ao desfecho. Um deles seria o interesse financeiro, já que o idoso havia vendido pouco tempo antes de desaparecer um caminhão, no valor de R$ 70 mil. Isso teria se somado a desentendimentos anteriores, que teriam levado, inclusive, ao afastamento da família. Rubem também teria deixado de auxiliar Cláudia financeiramente. Em razão disso, mãe e filho teriam assassinado o casal. 

Quando foram ouvidos na Justiça, os dois negaram terem sido os autores dos crimes. No caso de Andrew, em novembro do ano passado, o IPF, onde ele está internado, emitiu laudo no qual considera o réu incapaz de compreender os atos criminosos. Após esse resultado, a Justiça determinou a manutenção da internação provisória dele no local. Mesmo que seja submetido a júri, se a decisão da pronúncia for mantida, a pena aplicada pode ser diversa, como a de internação.

Sobre a decisão, o promotor de Justiça Thomaz De La Rosa da Rosa enviou nota onde afirma que o MP "vê com satisfação o encerramento da primeira fase processual, com a decisão de submeter ao Tribunal do Júri o julgamento do caso". Na mesma manifestação, o promotor afirma que irá recorrer para que a qualificadora do feminicídio em relação à vítima Marlene também seja mantida e submetida ao júri. 

Divulgação / Polícia Civil

 

Buscas foram realizadas pelos bombeiros com cães farejadores na tentativa de encontrar casalDivulgação / Polícia Civil

Defesas 

À frente da defesa de Cláudia, o criminalista Jean Severo sustenta que a cliente garante ser completamente inocente das acusações. Um dos argumentos da defesa é justamente o fato de que os corpos nunca foram localizados, para comprovar que as vítimas foram mortas.

— Nós vamos conversar com a Cláudia, para ver em conjunto se vamos recorrer. Neste momento, acho melhor não recorrer da sentença de pronúncia e ir a júri porque ela está presa. Mas nós vamos aguardar, conversar com a cliente e ver qual o melhor caminho. Mas, provavelmente, não vamos recorrer e vamos a júri — afirma. 

A mulher chegou a ser encaminhada para prisão domiciliar, por alegar sofrer de paraplegia decorrente de um quadro infeccioso grave, mas foi encaminhada novamente à prisão. Segundo o MP, a ré foi flagrada caminhando dentro do Hospital Vila Nova, em Porto Alegre, quando lá esteve internada e no dia 15 de março deste ano compareceu a uma audiência no próprio Fórum de Cachoeirinha dirigindo veículo não adaptado para pessoa com deficiência. Imagens captadas pela câmera do Fórum registraram Cláudia seguindo até o veículo, e levantando a cadeira de rodas para se acomodar no banco do motorista. Logo depois, deixou o local dirigindo o mesmo automóvel. 

O advogado André Von Berg, que representa Andrew, também sustenta a inocência do cliente. Sobre a decisão de enviar o réu a júri, a defesa enviou nota, na qual afirma que pretende recorrer:

"Acreditamos no Poder Judiciário. Mas, no caso concreto, entendemos que a sentença de pronúncia não fez a adequada Justiça pelos elementos de prova constantes dos autos em que pese todo o conhecimento do magistrado julgador. Iremos recorrer buscando a reforma da sentença. Ainda temos um longo caminho de batalhas jurídicas a ser percorrido já que tenho convicção na inocência do Andrew". 

 

Gaúcha ZH



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