Mulher é presa por suspeita de tentar matar três vezes o marido internado na UTI de hospital
A polícia passou a investigar o caso, depois que a equipe médica desconfiou da situação. O paciente segue hospitalizado, em estado estável, ainda sem condições de prestar depoimento
22/12/2025 08:04 por redação
Alimentos continam alta concentração de um coquetel de medicamentos de uso controlado. Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Uma mulher de 52 anos foi presa de forma temporária pela Polícia Civil, no sul do Estado, por suspeita de tentar matar o marido ao menos três vezes, enquanto ele estava hospitalizado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Santa Casa de Pelotas. A investigação é do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Os nomes dos envolvidos não foram divulgados até o momento.
A polícia passou a investigar o caso no último dia 17 de dezembro, depois que a equipe médica desconfiou da situação. Segundo a polícia, o paciente de 72 anos deu entrada no hospital no dia 5 de dezembro, com sintomas de acidente vascular cerebral. Depois disso, o idoso teve duas melhoras, mas, conforme a equipe médica, ele voltou a piorar e chegou a entrar em coma. As duas pioras teriam acontecido após visitas da mulher, nos dias 9 e 16.
Visitas e coma
Na primeira visita, a mulher levou um mingau para que o marido consumisse. Na segunda visita, a suspeita ofereceu água. A situação fez com que a equipe médica suspeitasse de um possível envenenamento. Por fim, no último dia 17, a mulher levou bebidas lácteas para o marido, mas, desta vez, a médica responsável acionou a Polícia Civil e entregou os iogurtes.
Conforme a delegada Walquiria Meder, da Delegacia de Homicídios de Pelotas, na ocasião em que a vítima ingeriu água, apenas 40 minutos depois, o paciente voltou a entrar em coma.
— Os médicos foram contundentes em afirmar que ele só não foi a óbito porque estava na UTI. Se não houvesse uma intervenção muito rápida certamente ele teria morrido — disse a delegada.
Na primeira visita, a vítima estava se recuperando, perto de ter alta do hospital quando, depois de ingerir o mingau levado pela companheira, em questão de horas, piorou e entrou em coma, apontou a delegada.
Perícias
Os alimentos foram encaminhados para análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP). Também foi realizada coleta de urina do paciente. Os laudos confirmaram que havia alta concentração de um coquetel de medicamentos de uso controlado nos iogurtes apreendidos. As mesmas substâncias foram encontradas na urina e sangue do idoso.
Ainda conforme a investigação, nenhum desses medicamentos havia sido administrado no hospital. Os policiais, coordenados pela delegada Walkiria Meder, realizaram buscas na residência da mulher. No local, foram apreendidas diversas caixas com os mesmos medicamentos constatados pelas perícias.

Medicamentos apreendidos.Polícia Civil / Divulgação
Segundo a perícia, foram encontrados no iogurte quatro medicamentos: um opioide, um sedativo, um remédio para pressão alta e um relaxante muscular.
Paulini Wegner, chefe da divisão de Toxicologia Forense do IGP, explicou que os componentes, sobretudo quando combinados, tinham o potencial de provocar uma depressão do Sistema Nervoso Central, e em consequência uma depressão respiratória, levando a uma necessidade de ventilação mecânica ou coma do paciente.
— Tratamos, desde o início, este caso como urgência, pois geralmente este tipo de análise em casos semelhantes é feita após o óbito. Mas, sabendo da necessidade, em parceria com a Polícia Civil nos foi trazido os alimentos e amostras da urina para identificar o que o paciente estava recebendo via oral e o que estava no organismo — declarou.
A perícia também está analisando outros alimentos levados pela mulher para o hospital para verificar se há presença dos medicamentos.
A mulher foi presa de forma temporária por tentativa de homicídio no fim de semana e encaminhada à Penitenciária de Rio Grande. Após ser presa, ela optou por permanecer em silêncio.

Polícia realizou coletiva para detalhar o caso.Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
— O inquérito foi conduzido de forma sigilosa. Infelizmente, esse senhor foi vítima de tentativas de envenenamento e a autoria de forma chocante é de sua própria companheira. Não há dúvidas que a suspeita entrou no hospital e levou esses produtos, que é um tipo de iogurte para dar para o companheiro consumir — disse o delegado Mario Souza, diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa.
O delegado destacou ainda que a ação da equipe médica, que chamou a polícia ao desconfiar do caso, foi fundamental:
— O familiar tem acesso a quem está doente. Isso é normal. Graças a equipe de saúde do Hospital Santa Casa foi possível proteger a vítima, investigar e chegar à autoria. Quando tiveram a desconfiança, acionaram a polícia.
O paciente segue hospitalizado, em estado estável, ainda sem condições de prestar depoimento. A polícia apura o que pode ter motivado a tentativa de homicídio. Os dois eram casados havia cerca de 30 anos, e são pais de três filhos. O idoso já tinha outros quatro filhos, de um relacionamento anterior.
Celulares da mulher e de familiares dela foram apreendidos no fim de semana e estão sob análise.
— Com a análise desses telefones, esperamos ter alguma pista sobre a possível motivação, já que ela preferiu permanecer em silêncio. Os familiares relatam que não havia brigas entre eles, e não há histórico de registro de violência doméstica — afirmou a delegada Walkiria.
GZH
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