Padre investigado em operação sobre atos golpistas alega "sigilo sacerdotal" para não entregar senha do celular à PF
Sacerdote afirma que equipamento armazena os "dramas mais profundos" de fiéis
20/02/2024 07:40 por redação
Alvo da operação Tempus Veritatis, que apura uma tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados políticos, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva disse que entregou o seu aparelho celular às autoridades, mas não a senha. Pois, segundo ele, seu "sigilo sacerdotal não pode ser violado", já que o equipamento armazena os "dramas mais profundos" de fiéis.
Na transmissão de uma live na quinta-feira (8), o sacerdote contou também que atende espiritualmente autoridades — como políticos , desembargadores e outros padres — e não pode expor os segredos de quem o procura.
— Graças a Deus, como teólogo e filósofo, muitas pessoas se consultam comigo, do Brasil inteiro: prefeitos, vereadores, deputados, juízes, desembargadores, deputados federais, deputados estaduais, senadores. Eu atendo todas as pessoas que pedem meu auxílio espiritual. Porque essa é a minha missão. Se as pessoas gostam de mim, da minha oração, do meu conselho, é porque elas veem algo diferente — disse.
No registro de mais de nove minutos, o sacerdote ainda pediu doações e divulgou cursos que vende na internet. O padre tem mais de 340 mil seguidores nas redes sociais. Ele utiliza a internet para divulgar seus pensamentos.
— Quero aproveitar a ocasião para reafirmar minha posição absolutamente inquestionável e inequívoca em defesa da vida, contra o aborto, em favor da família, contra as ideologias que pretendem destruir a identidade das pessoas, em favor daqueles princípios que nós todos somos chamados como cristãos, sobretudo eu como sacerdote, a defender com valentia — afirma.
Suposto integrante do núcleo jurídico de esquema
Integrante na Diocese de Osasco, padre José Eduardo de Oliveira e Silva foi identificado pela Polícia Federal (PF) como participante de uma reunião no dia 19 de novembro de 2022 no Palácio do Planalto, ocasião em que teria sido discutida uma minuta golpista para impedir a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na representação da PF, é informado que o clérigo "possui um site com seu nome no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigadas em inquéritos correlacionados à produção e divulgação de notícias falsas".
Na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), José Eduardo de Oliveira e Silva é citado como integrante do núcleo jurídico do esquema, que atuaria no "assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado".
No dia do resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, 2 de outubro, José Eduardo postou uma foto de um altar com a bandeira do Brasil em cima de uma santa.
Em nota, o sacerdote afirmou que, em relação ao inquérito da PF, sua posição sobre o assunto é "clara" e "inequívoca", e diz estar à disposição da Justiça.
"A República é laica e regida pelos preceitos constitucionais, que devem ser respeitados. Romper com a ordem estabelecida seria profundamente contrário aos meus princípios. Abaixo de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não cooperei nem endossei com qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre as quais humildemente me incluo", escreveu em nota.
Também em nota, a Diocese de Osasco afirmou que recebeu a notícia sobre as investigações e buscas da PF à casa do padre por meio das mídias sociais. "A Diocese se colocará sempre ao lado da Justiça, colaborando com as autoridades na elucidação do caso."
GZH
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