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Menino de 11 anos assassinado a tiros em Catuípe, sonhava ser jogador de futebol

Crime aconteceu na tarde do último domingo, no bairro Santa Fé, onde o garoto residia

19/04/2023 08:26 por André Motta


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No último domingo (16), Eliezer Batista Altíssimo almoçou com a mãe e os irmãos em Catuípe, município de 9,3 mil habitantes no noroeste do RS, onde residia. No começo da tarde, o menino saiu de casa para ir pescar com um familiar. No retorno, encontrou outras crianças, que lhe convidaram para jogar bola. Apaixonado por futebol, o garoto estava em frente à casa dos tios, no bairro Santa Fé, quando dois criminosos chegaram ao local. Um deles efetuou uma sequência de disparos, ferindo quatro pessoas. Entre elas, Eliezer, que ainda tentou escapar correndo, mas foi alvejado e morreu.

Em frente à Escola Municipal de Ensino Fundamental Ulisses Salazar foi fixada uma faixa preta com fotos e mensagens. Sinal de luto pela perda do aluno, que estava no sexto ano, no turno da manhã. No colégio, onde são atendidas 240 crianças, Eliezer era conhecido por ser um menino de sorriso largo, que conquistava muitas amizades.

— Um menino muito querido, amigo de todos. Um sorriso lindo. Uma criança muito querida, muito amada pelos colegas, por todos nós. Com muitos sonhos. Ele falava muito que queria ser jogador de futebol — recorda a diretora, Pâmela Bonatto Ullrich.

O garoto estava na instituição desde as séries iniciais. Uma das suas disciplinas favoritas era Educação Física. Na segunda-feira, a escola permaneceu fechada, em luto. Os professores confeccionaram a faixa com frases escritas para o aluno e depois se dirigiram até a sede da Associação dos Moradores do bairro Santa Fé, onde foi realizado o velório da criança. Nesta terça-feira (18), a escola está trabalhando na acolhida dos alunos, especialmente da turma que Eliezer frequentava, com apoio de psicólogos e assistentes sociais. Familiares do menino também estudam no mesmo local.

— Temos essa preocupação sobre o importante papel enquanto escola de acolher os familiares e demais colegas, amigos. Todos nesse momento se sentem tristes, abalados. Retornamos hoje por uma questão de respeito às necessidades da comunidade. Nossa escola tem atividades em turno integral e muitos alunos ficam o dia todo. A escola tem esse papel de acolhida e papel social — diz a diretora.

Apegado aos irmãos

Padrasto de Eliezer, Jackson Canabarro, 30 anos, conta que no domingo o garoto estava em casa com a família. O safrista lembra que o enteado era fã do jogador argentino Lionel Messi e sonhava seguir os mesmos passos. Além do futebol, gostava de fazer desenhos. Afetuoso, em casa se divertia brincando com os irmãos menores — um de sete e outro de um ano. O garoto tinha ainda uma irmã mais velha, num total de quatro irmãos.

— Brincava na rua, em casa, com os irmãozinhos dele. Cuidava bastante do irmão menor. Sempre fazia alguma coisa para os outros darem risada, estava sempre tentando animar os outros, distrair — recorda.

No domingo, depois do almoço, Eliezer saiu para pescar com um tio. O menino ficou algum tempo no rio pescando, mas no meio da tarde sentiu fome, e resolveu voltar para casa.

— Nisso, encontrou os primos dele, que convidaram para ir jogar bola na praça. Ele ia passar em casa, falar com a mãe dele, e ir jogar. Mas nisso aconteceu — descreve.

Eliezer estava em frente à casa dos tios-avós, quando o local foi atacado a tiros. Além dele, uma tia e um tio também foram baleados. Uma outra mulher, que estava visitando os tios de Eliezer, também foi atingida. Os três foram socorridos e hospitalizados. A tia do menino sofreu o maior número de disparos e está hospitalizada em estado grave. Eliezer chegou a ser levado para o hospital, mas não resistiu.

Canabarro conta que estava trabalhando, quando telefonaram informando que o enteado tinha sido baleado. Só mais tarde ele soube que o menino não tinha sobrevivido.

— Ele costumava ir seguido brincar com eles ali. Não está sendo nada fácil — diz o padrasto.

O assassinato do menino causou consternação no município. O corpo de Eliezer foi sepultado ainda na segunda-feira no Cemitério Municipal.

Facções criminosas

A principal linha de investigação da Polícia Civil é de que o ataque esteja vinculado ao tráfico de drogas — ainda que o menino não tivesse nenhuma relação com esse tipo de crime. Dois criminosos chegaram em frente à residência numa motocicleta. Um deles, usando capacete para encobrir o rosto, desembarcou e passou a efetuar disparos de arma de fogo. A suspeita é de que tenha sido usada uma pistola de calibre 9 milímetros — foram recolhidas cápsulas no local pela perícia.

Segundo o delegado Antônio Gilberto Matter Soares, a proprietária do imóvel era tia-avó do menino. Além da mulher, também foram baleados o irmão e uma amiga dela. Os alvos do atirador seriam os moradores da residência.

— Estavam sentados na área da casa, conversando, tomando chimarrão, e o menino brincando com os netos da vítima. O carona desceu e começou a disparar em quem estava ali — descreve o delegado.

Conforme o policial, assim que as vítimas tiverem condições de saúde serão ouvidas. A investigação também busca colher relatos de testemunhas. Embora confirme que a linha de investigação segue sendo a do tráfico de drogas, o delegado afirma que ainda não é possível indicar se o ataque envolve alguma disputa entre facções ou alguma desavença dentro do mesmo grupo criminoso. Ainda assim, sabe-se que há na região disputa entre duas facções que dominam o tráfico em diversos pontos do Estado.

Esses conflitos estariam por trás de trocas de tiros recentes. Na madrugada de sábado (15), um dia antes do ataque em Catuípe, uma casa foi alvejada com série de disparos no município vizinho, Santo Ângelo, deixando uma mulher ferida. Na madrugada de segunda-feira (17), a Brigada Militar apreendeu também em Santo Ângelo uma submetralhadora, duas pistolas de calibre 9 milímetros e uma espingarda, além de munição de diferentes calibres. Quatro pessoas — entre elas, dois foragidos — foram presas no local. A Polícia Civil afirma que não é possível apontar ainda que haja relação entre os presos e o fato ocorrido em Catuípe.

Gaúcha ZH



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